Ciência, pseudociência e cientificismo

Rimberg Tavares
3 min readOct 26, 2022

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A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp (1632). Rembrandt (1606–1669).

Por Rimberg Tavares

A fronteira entre ciência e pseudociência nem sempre é fácil de ser definida. Podemos definir pseudociência como crenças ou hipóteses desenvolvidas a partir de bases científicas, porém sem aderência prática e nem experimentação. A pseudociência geralmente fica no campo imaginário e quando parte para as experiências vai a falência, resultando em descrédito no meio científico. Na maioria dos casos (para não dizer em todos), resta aos pseudocientistas apegar-se à uma reinterpretação dos fatos e evidências contrárias às suas teorias, observando-as sob a ótica da dúvida, tentando confirmar tais crenças mesmo com comprovações de sua falseabilidade.

Pseudociências tendem a se tornar teorias da conspiração, são muito bem difundidas por personalidades carismáticas e não científicas, que vendem tais ideias para seus públicos sem passar pelos canais científicos, ignorando os anais científicos de experimentação e confirmação. Infelizmente, no meio cristão é mais comum do que gostaríamos a adoção de métodos pseudocientíficos para apoiar crenças, até mesmo numa tentativa rasa de validar o texto bíblico. Então, fica a pergunta, como podemos validar uma teoria científica, confirmando-a como verdadeira?

Em “Ciência e Religião: Fundamentos para o Diálogo”, Alister Mcgrath cita que, para muitos, as verdadeiras teorias científicas descrevem de forma real o mundo porque podem ser observadas e confirmadas. Esse conceito é chamado de realismo científico e consiste na confirmação de uma tese a partir de repetidas observações e experimentos no mundo real. Embora tenhamos outras alternativas para a compreensão do universo físico, tais como o idealismo ou instrumentalismo, é fato a predominância do realismo científico, tendo em vista que se sustenta sobre o sucesso de sua aplicação. Em resumo, pode-se afirmar que uma teoria científica é verdadeira quando nela há sucesso em descrever a realidade, o que pode ser verificado por diversas vezes e por quantas for necessário, a partir de observações e experimentos no mundo físico. Confirmando, assim, a autoridade das teorias científicas e, por consequência, da própria ciência.

No entanto, não podemos cair no erro do cientificismo, conceito que afirma que não existem verdades à parte das teorias científicas. Os defensores do cientificismo em geral dividem o conceito em dois lados: o cientificismo forte, que é o mais clássico, cuja definição já foi dada anteriormente; e o cientificismo fraco, o qual afirma que podem haver verdades que não são validadas pela ciência, embora esta seja a forma verdadeira de adquirir conhecimento da realidade. O cientificismo forte elimina as demais formas de leitura da realidade, o cientificismo fraco torna essas outras atividades intelectuais inferiores e aponta para a obrigatoriedade de ampliar os horizontes da ciência para validar teses ainda não confirmadas pelo método científico, como os da área espiritual ou da mente.

Existem crenças verdadeiras irrefutáveis fora da ciência e não precisamos dela para validá-las. Conforme afirma Alister Mcgrath, disciplinas intelectuais à parte da ciência desenvolvem seus próprios métodos de pesquisa para investigar seus objetos de estudo e são capazes por si só de explicar e validar a realidade estudada, a própria teologia é um exemplo disso. Concluo afirmando que, mesmo sendo indispensável para a validação das realidades existentes dentro do mundo físico e essencial para a refutação de teorias falsas, a ciência não é uma autoridade absoluta em todos os campos do saber, o que invalida o argumento cientificista.

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Ensaio (editado) elaborado em setembro/2021 para o Curso de Pós-graduação Deus, o Cosmos e a Humanidade da Academia ABC2 — Disciplina Filosofia da Ciência: Natureza, Escopo e Finalidade da Ciência, ministrada pelos professores Marcelo Cabral e Luiz Adriano.

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Rimberg Tavares

Engenheiro. Especialista em Ciências Contemporâneas e Teologia Cristã.