Os atributos de Deus e o problema do mal

Rimberg Tavares
3 min readJun 13, 2021

Entre os grandes temas relacionados ao debate da existência de Deus está o que denominamos problema do mal. Peter van Inwagen define o problema do mal da seguinte forma: há uma quantidade enorme de mal no mundo; se Deus existisse verdadeiramente, não haveria mal algum no mundo; logo, Deus não existe. Tal declaração consiste em um grande desafio para os teólogos e filósofos cristãos, pois ainda que queiramos sustentar a existência de um Deus, o argumento nos leva a questionar uma possível incompatibilidade entre a coexistência do mal e a de um Deus bondoso, onisciente e onipresente. Para trazer à tona essa reflexão, falarei de maneira ordenada sobre três atributos de Deus, os quais considero principais para esse debate: onisciência, onipotência e amor.

Um ser é onisciente se ele tem conhecimento de todas as coisas em qualquer espaço de tempo, onisciência é conhecimento infinito. A Bíblia apresenta Deus como aquele que conhece todas as coisas: “Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces” (Salmos 139: 4 — Almeida Corrigida Fiel). Olhando para esse atributo, podemos pensar que: Deus conhece todas as cosias previamente; há grandes males acontecendo pelo mundo; Deus sabe que todos esses males irão acontecer previamente.

Vamos agora considerar o próximo atributo: onipotência. E aqui vamos definir onipotência como poder de máxima grandeza. Deus é frequentemente chamado de Todo-Poderoso na Bíblia, esse é um de seus atributos, “nada é impossível para Deus” (Lucas 1: 37). Levando em consideração esse atributo junto ao anterior, pode-se questionar: se Deus pode todas as coisas e sabe previamente que um mal irá acontecer, por quê Ele não impede que esse mal aconteça?

Podemos citar algumas teodiceias e defesas para essa questão, a primeira delas é a do teísmo cético. Pelo fato de Deus ser onisciente e, por consequência, saber de infinitas outras coisas a mais do que nós, podemos acreditar que Deus tem razões suficientes e que não conseguimos discernir para permitir algum tipo de mal. Mas considero que esse argumento não abrange todas as questões, pois é muito difícil para nós acreditar que Deus tenha bons motivos para permitir tragédias como o estupro, o assassinato brutal de uma pessoa inocente ou a prática da pedofilia. A defesa do livre arbítrio talvez se encaixe melhor para essa explicação.

É plausível assumirmos a crença de que Deus não determina e não executa o mal, pois é algo totalmente contrário a Sua natureza. A Bíblia afirma que o amor também é um atributo de Deus, pois Ele mesmo é amor (1 Jo 4: 8b). Por esse amor, Deus criou a humanidade à Sua imagem, com a possibilidade de escolha, o que chamamos de livre arbítrio. Se Deus impedir alguém de fazer o mal sempre que essa pessoa tentar fazê-lo, logo ela não tem livre arbítrio. No entanto, isso não significa que Deus fique de braços cruzados enquanto o mal ocorre no mundo. A Bíblia diz que o Filho de Deus se manifestou para desfazer as obras do maligno (1 Jo 3. 8). A Palavra de Deus ainda nos diz que não devemos nos deixar vencer pelo mal, mas que o vençamos com o bem (Rm 12. 21). Enquanto houver filhos de Deus neste mundo, estes deverão combater o mal e vencê-lo com o bem.

Concluo com as palavras de Bruno Nascimento: Um mundo habitado por criaturas significativamente livres e que escolhem livremente executar mais ações boas do que más é mais valioso do que um mundo habitado por criaturas sem livre arbítrio.

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Ensaio (editado) elaborado em abril/2021 para o Curso de Pós-graduação Deus, o Cosmos e a Humanidade da Academia ABC2 - Disciplina Filosofia da Religião, ministrada pelo professor Bruno Nascimento.

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Rimberg Tavares

Engenheiro. Especialista em Ciências Contemporâneas e Teologia Cristã.